Hoje fiquei sem chão.Os meus pés levitaram no vazio que sempre os acompanhou.Durante anos não percebi que os meus pés estavam suspensos no ar denso e rarefeito.E agora que o sei, falta-me o ar que durante toda a minha vida se fez chão.Descobri que sempre tive um enorme pedaço de nada e esse nada sufoca-me como se fosse, por si só, alguma coisa.Tão complexa é a nossa existência e mais complexa, ainda, é a nossa inexistência quando na realidade existimos.Podemos viver anos a fio preenchidos pelo vazio e, no segundo seguinte, morremos sufocados pela falta atroz do que nunca tivemos.Queria atirar-me para o chão e chorar.Só hoje.Queria ter onde cair viva, no desamparo do que sobrou.Só hoje.Mas não tenho chão.Mas não tenho nada.
©Balthasar Sete-Sóis
Este poesia minha prof leu na turma. Gostei d+. Parece eu. Tinha perdido, agora achei.